27.5.05

No Topo do Mundo

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Via Abrupto, de JPP, apercebi-me que o montanhista João Garcia teria chegado ao topo do Lotse. Tal passou despercebido neste país tão preocupado a olhar para o seu umbigo. Mea culpa, pois eu próprio, preso à análise dos malefícios do défice, à crise do Dragão e outras incidências que tais, não dei o devido realce a tão grande feito.

Não imagino a dureza que seja subir acima dos oito mil metros (Lhotse, 8516M).

A minha marca pessoal anda para lá dos cinco mil, no Kilimanjaro. Fiquei vacinado!

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A subida do Kili, em 2002, com um grupo de amigos, marcou o princípio e o fim da minha carreira de trekking a nível internacional. De um grupo de sete, apenas três se mantiveram fiéis e decidiram avançar para montanhas mais altas. Na passagem de ano de 2003 para 2004, o Paulo e o Miguel atacaram o Aconcagua, num grupo liderado precisamente pelo João Garcia. O Filipe também andou novamente nas subidas e descidas . No sábado passado, o Miguel, no dia do seu 34.º aniversário, anunciou que em Outubro segue para os Himalaias. Está bem: o Miguel nasceu mesmo para subir! Não vou dizer que não tenho alguma pena por não estar em condições físicas de alinhar em semelhante desafio; e pelo facto do meu actual tipo de vida tão pouco permitir acomodar o ritmo de preparação que uma subida deste estilo exige: porque, quando a vida se torna claustrofóbica, poucas coisas nos lavam a alma como umas férias de montanha, com um grupo de verdadeiros amigos.

Noto, contudo, que estas subidas, embora algo duras, são organizadas para desportistas amadores.

Agora, as proezas do João Garcia ultrapassam tudo o que se possa imaginar, estando muito para lá daquilo que qualquer português algum dia antes conseguira; ele está na galeria dos notáveis que conseguiu atingir o Topo do Mundo! A dureza destas aventuras pode ser medida pelos seus relatos e dos seus antecessores; o conforto dos nossos lares, porém, impede-nos de perceber o que eles representam na sua globalidade.

Num país sem perspectiva, onde ninguém consegue ver o horizonte, a tenacidade do João Garcia é uma das nossas mais felizes metáforas: a dos que traçam objectivos difíceis, e os perseguem. E, às vezes, os atingem.

Rodrigo Adão da Fonseca