26.5.05

"Hooliganismos" que passam despercebidos

Está visto, há um "hooligan" escondido em quem menos se espera. Veja-se o excerto de uma entrevista de António Lobo Antunes, dada à Visão nº 560 (bolds meus):


Visão: Ainda sonha com a guerra?

António Lobo Antunes: Às vezes tenho um pesadelo tremendo. Sonho que me estão a chamar para voltar para África. Tento explicar que já fui, argumentam que tenho que ir. E o sonho acaba aqui. Nunca sonhei com tiros ou com morteiradas. No meio daquilo tudo havia muito humor. Havia um homem, o Bichezas, que cuidava do morteiro que estava ao pé da messe. Tínhamos mais medo dele do que do MPLA porque o Bichezas disparava com o morteiro na vertical. Aquilo subia... e toda a gente fugia. Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo, havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, punhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.

V: Parava a guerra?

ALA: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto, mas agora contra um do Benfica?

V: Não vou pôr isso na entrevista...

ALA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do Benfica?


A edição acima referida é de Novembro de 2003 e o destaque que então foi dado, julgo que na 1ª página, era "A guerra de António Lobo Antunes".

Imagine-se agora afirmações semelhantes feitas por uma figura pública simpatizante do FCP, com idêntico grau de "hooliganismo". Que frase seria remetida para a 1ª página em letras garrafais???...