O Porto é, desde longa data, uma cidade de Senadores. Esta é uma marca cultural que se manteve no tempo. Estes cidadãos, alguns por mérito, outros por mero oportunismo, na sua qualidade de opinion makers, dissertam sobre a cidade, as suas instituições, procuram no meio do nevoeiro o rumo perdido. Uma parte significativa destes senadores actua imbuída de espírito cívico e desinteressadamente: para estes, a exposição pública e mediática traduz-se num incómodo e não numa fonte de vantagens. Para outros, porém, o estatuto de senador não passa de uma capa para um caciquismo bairrista, que busca, mais do que um rumo para a cidade e para a região, um trilho para os seus negócios privados, os quais implicam uma certa proximidade com os poderes instituídos que, no fundo, os financiam.
Entre os grandes intelectuais da Invicta está Manuel Serrão (MS), empresário e entertainer, homem do Portugal Fashion, da Noite da Má-língua, do Via Rápida, defensor fervoroso do Futebol Clube do Porto. MS é uma das criaturas de maior peso do Norte. Disso, ninguém tem dúvidas. Os seus méritos entram pelos nossos olhos dentro. O seu brado, poderoso, atravessa qualquer restaurante, sendo, talvez por isso, uma das vozes mais ouvidas da cidade.
Dotado de enorme polivalência, além de tudo, escreve. Palavra aqui, palavra ali, diga-se, os textos de MS transportam-nos até à noesis quando escreve sobre Futebol, fazendo do esférico uma ciência. A sua crónica, hoje, no Comércio do Porto, é um excelente exemplo disso. A propósito da presença nas Tertúlias do Comercial (na Associação Comercial do Porto), de Jorge Nuno Pinto da Costa (PC), MS brinda os leitores com uma excelente crónica que, dada a sua riqueza, peço escusa para não a comentar na íntegra. Ainda assim, não posso deixar de realçar as simpáticas palavras que MS dirige ao Diogo Feyo; os itálicos são meus:
« (...) O dr. Diogo Feyo, deputado do CDS, ex-secretário de Estado deslocalizado e dragão encartado, no uso da sua prerrogativa de comentador da tertúlia e no meio de várias banalidades e da confissão do medo que tem do excesso de brasileiros na equipa, manifestou a sua satisfação pelo segundo lugar obtido, que até garante acesso directo à Liga dos Campeões. O dr. Diogo Feyo está careca de saber que um dragão não está "autorizado" a ficar satisfeito com um segundo lugar, nem que os árbitros passem todos a equipar de vermelho e o Benfica comece a disputar todos os jogos fora, no Estádio do Algarve.
Na resposta, o Presidente do F.C. Porto saudou o rapaz como se nada se tivesse passado e só se preocupou em perguntar-lhe se não gostava que todos os brasileiros fossem como o Ibson (e custassem o que ele custou, imagino...) (...)».
Pois é, Diogo. Quem diria, numa cidade que se diz Invicta, é necessária autorização para ficar ou não satisfeito. E já agora, MS, quem emite tal a autorização? PC mediante Despacho? Ou MS, himself, por delegação? Mais, caro Diogo: de nada te vale teres sido um dos melhores do teu curso; professor universitário; mestre em Direito, Deputado da Nação (dos que trabalham); Governante (dos que se esforçam). De nada te serve: para MS, continuas a ser um rapaz, que diz banalidades; o grande homem do Norte descobriu-te a careca; tudo isto, porquê? Por uma única razão: és culpado de delito de opinião!
Eu sou portista. E estou desiludido com a carreira do FCP este ano. Como todos os meus companheiros de bancada, achamos que o clube desbaratou recursos de uma forma nunca antes vista, e contrária ao que estávamos habituados. Comprou sem critério. Acertou no Ibson? Gostava que todos fossem como ele. Mas não são: Maciel, Fabiano, Pitbull, Leandro, Leo Lima, Leandro do Bonfim, Thiago, entre tantos outros, que no ano que vem já não cá estarão (alguns já nem estão) no clube, não justificaram as respectivas contratações. Falar no Ibson é atirar areia aos olhos das pessoas. Dadas as incidências da época, o segundo lugar foi muito bom. O primeiro, esse, teria sido a sorte grande. A fraca qualidade dos nossos adversários e a sua incapacidade para aguentar a pressão quase que nos colocava nas mãos o triunfo. Seria fantástico! Agora, caro MS, a generalidade dos sócios e simpatizantes do FCP não anda a dormir, nem precisa de autorização para pensar pela própria cabeça. E não vivem estas coisas como se o futebol fosse a única preocupação das suas vidas. Certamente, em breve, MS sentenciar-me-á, como fez ao Diogo. É-me verdadeiramente indiferente. Mas no final do jogo com a Académica, o público bateu palmas. No fim de uma época atípica, um bom esfoço final levou o clube ao segundo lugar, salvaguardando a próxima época. Se não estavam satisfeitos, porque bateram palmas? E não me venha com tretas sobre «Portismo», que já asisti neste estádio a grandes assobiadelas.
O FCP, antes da chegada de Mourinho, passou um período difícil. Já o tinha passado, noutras épocas. Este ano, existiu de facto uma certa desorientação. Qualquer adepto portista que tenha cérebro e pense, percebe isso.
PC é o grande responsável pelo crescimento e consolidação de um FCP excepcional, que apresenta uma estrutura invulgar. PC, não tenho dúvidas, tem plena consciência que as coisas não lhe estão a correr bem. Aproveita-se de fait divers como aqueles com os quais MS se baba (como o comentário do Ibson) para entreter as massas.
O FCP é grande, e está bem estruturado, pelo que estou certo PC terá a capacidade necessária para colocar o clube no bom caminho. Ao longo de todos estes anos, tivemos períodos assim. Menos bem conseguidos. Faz parte do futebol.
Mas, MS, a defesa intransigente do FCP e do seu Presidente não lhe dá o direito de insultar pessoas decentes, por mero desvio de opinião, de uma forma gratuita e perfeitamente desproporcionada. Para si, este tipo de abordagem, ao bom estilo da Noite da Má-língua, deve ser normal e divertida. Agora, antes de considerar banais as afirmações dos outros, leia o que escreve; antes de diminuir o trabalho alheio, veja o que fez na vida; antes de chamar careca a alguém, olhe-se ao espelho. Se um não bastar, ofereço-lhe outro.
Rodrigo Adão da Fonseca
Disclaimer: Não sou filiado no CDS-PP (nem em nenhum outro partido), nem nunca o fui. Não simpatizo com o CDS-PP, partido no qual nunca votei. Conheço o Diogo fora do universo político. Sei que é pessoa honrada.
Escrevo, porque me apetece; por isso, e porque estou farto de viver numa cidade onde se «fala, fala, fala», mas muitos dos que falam, são os que menos fazem. A cidade move-se à custa de cidadãos que trabalham no silêncio e no anonimato, e que não perdem tempo a denegrir, sistematicamente, e de forma gratuita, pessoas decentes. O Porto é Cidade Invicta, pela honradez dos que lá vivem. Muitos, à surdina, estão como eu. Fartinhos. Vivo dos proventos do meu trabalho. Pago todas as minhas despesas, os meus estudos (mais de 300 euros/mês, fora livros), que acumulo, no tempo que me sobra, com uma profissão muito absorvente. Como só me falam em crise, e se preparam para que seja eu, e outros como eu, a pagá-la, acho que está na altura de começar a ser muito mais exigente. Aqui, o regabofe acabou.
Sou sócio do Futebol Clube do Porto. Sou sócio da Associação Comercial do Porto.