31.5.05
L´Homme Européen
Chirac não perdeu tempo. Depois da sua derrota pessoal, com a vitória do não que ferozmente tinha combatido, aceita a demissão de Raffarin e nomeia o seu "fidèle parmi les fidèles" amigo, Dominique de Villepin, para o Matignon. Nascido em Marrocos, Enarca, diplomata de longa carreira (com passagem por Washington), poeta e autor de um extenso livro sobre os últimos cem dias de Napoleão (Les cent joursOu l'esprit de sacrifice), Villepin tem à sua frente um único objectivo: convencer os fanceses a votarem favoravelmente o TCE, mais tarde ou mais cedo. Amanhã não será um bom dia nesta caminhada, com o mais-que-provável Não holandês.
A poucas semanas do referendo, Villepin lançou, a meias com o espanhol Jorge Semprún, "L'Homme européen", livro em defesa do Sim. O livro causou alguma polémica por juntar, em defesa do mesmo projecto e com ideias semelhantes, um gaullista e um militante de esquerda espanhol.
Tal união, aparentemente contra natura, afinal não é mais do que o reflexo de todo o debate em torno do TCE, no qual a velha divisão esquerda/direita não tem qualquer significado, encontrando-se defensores do Sim e do Não qualquer que seja o espectro do universo ideológico escolhido para análise. Será Villepin capaz de provocar a reviravolta? Considerado por alguns um "hábil gestor de crises" (aplaudido no Conselho de Segurança da ONU por se opôr à intervenção aliada no Iraque, não hesitou depois em trocar favores com os EUA quando estavam em causa interesses franceses), a nomeação de Villepin deve servir para recordar aos defensores do "Não" em Portugal que este "Não" francês pode não ter representado a morte do TCE.