29.5.05

Oui, Madam; Oui, Monsieur

Hoje a França vai a votos. A democracia no seu melhor. Um país inteiro referenda um documento de quinhentas páginas, uma dádiva do Sr. Giscard aos povos da Europa. Na roleta das urnas, sairá "Não"? Certamente.

As forças do Não estão muito bem organizadas. Entre os partidários do Não criaram-se fortes afinidades e uma enorme plataforma comum. E, claro, ideias sólidas sobre o que está a ser votado. O Jean vota Não porque não gosta dos chineses, dos americanos e dos ingleses. O Louis vota Não porque sonha ainda com o dia da reforma, depois de uma lenta agonia de trinta e seis horas semanais a navegar no messenger. O Tavarés vota Não, para defender esta nossa sociedade justa onde a sua falta de ambição é recompensada: é que pretende continuar a viver com um sorriso nos lábios (leia-se: na sombra do Estado Social), sem ter de entregar ao Estado, directamente, 42% do seu rendimento (fora o resto). O Antoine vota Não porque adora aquela camisola do Che Guevara, oferecida por aquela camarada que nunca mais viu, com quem teve a primeira experiência sexual, depois de partirem, nos preliminares, uma data de montras. A Doroté vota Não porque está farta dos vizinhos argelinos. E dos ciganos. A Marie vota Não porque as francesas deixaram de ser ícones sexuais: agora, os franceses preferem as húngaras e as checas. O Piérre vota Não porque detesta couves de Bruxelas: aliás, detesta legumes. Não nos podemos esquecer os que defendem o Não, em Portugal também, por isso lhes conceder uma áurea de ser intelectualmente superior.

Eu sou a favor do Sim. Gosto dos chineses, dos americanos e dos ingleses (pensando bem, gosto de todos os povos). Sou a favor da abolição do messenger na Administração Pública. Talvez por ser consultor fiscal, estou farto de impostos. Acho as checas e as húngaras verdadeiros ícones de beleza. Tenho vizinhos de várias nacionalidades (em Lisboa, sobretudo espanhóis, é certo), e isso não me incomoda. Antes pelo contrário. Nunca tive uma t-shirt do Che (tenho cá em casa um boné do Mao, que a minha mulher comprou na China, acho que só para me chatear). Nunca parti uma montra. Estou, como liberal e católico, habituado a ser acusado de uma certa menoridade intelectual (pelo que o meu lado tinha de ser o do Sim).

Só não sou um incondicional da Europa, porque detesto couves de Bruxelas. Aliás, não sou fã de legumes e vegetais. Só se for na sopa. E porque acho que nunca um texto desta natureza deveria ter sido entregue a alguém como o Sr. Giscard D'Estain.

Nos últimos dez dias, e perante a "cogumelonização" mediática do Não e dos seus partidários, pensei seriamente em dinamizar o Sim. Depois, desisti. Estou cheio de coisas para fazer. O pouco tempo disponível, canalizei-o para outros posts, que me pareceram mais produtivos. É que a discussão sobre a Europa está, neste momento, viciada.

Porque, se pensarmos bem, alguém hoje tem bem a noção daquilo que está verdadeiramente em causa no "Sim" e no "Não"? Mais: alguém está interessado em discutir o Tratado Constitucional?

Obviamente, "Não".

Vive la France!

Rodrigo Adão da Fonseca