Os manuais escolares são em Portugal um exemplo donde nos levou um Estado que não cede poder e duma actividade empresarial, no caso a edição de livros escolares, que tem crescido graças ao proteccionismo estatal.
Todos os anos milhares e milhares de manuais escolares vão para o lixo ou para o sotão quando podiam muito bem ser entregues na escola para posterior reutilização. A este desperdício outro mais grave ainda se junta: em algumas disciplinas os manuais não fazem falta alguma. Por exemplo no POrtuguês do 9º ano o recurso aos manuais contribui para que não os alunos nunca percebam que estão a estudar excertos de obras completas (note-se que estas mesmas obras têm edições excelentemente editadas e anotadas a preços quase simbólicos). As fichas de leitura e esquemas a que se reduzem os textos nesses manuais são uma excelente introdução a um manual intitulado "Tudo o que se deve fazer para impedir o gosto pela leitura".
Os sucessivos governos nunca apoiaram a reutilização dos manuais escolares ou quando equacionaram essa possibilidade (caso do governo Santana Lopes) fizeram-no a pensar nos alunos carenciados ou seja apresentando perversamente a reutilização como uma coisa de pobrezinhos.
Assim chegámos a 2006 com o Estado a gastar verbas imensas no chamado apoio aos carenciados pois inúmeras famílias apresentam baixos rendimentos e como tal não pagam os manuais escolares - o papel dos aluno carenciado na economia escolar e na gestão escolar é um caso a merecer estudo muito sério - como é óbvio ninguém valoriza aquilo que não paga mesmo que simbolicamente e consequentemente estamos a incentivar não só uma atitude assistencialista por parte das crianças mas também um absoluto desprezo pelos livros que nem sequer valem os cêntimos dum qualquer Bollycao.
O Governo de Sócrates anuncia alterações importantes no livro escolar. Infelizmente as medidas anunciadas são péssimas: não se fala de reutilização mas sim de criar comissões que determinarão quais os manuais escolares que poderão ser escolhidos. Ou seja essa escolha que até agora era feita em cada escola pelos professores passará para as mãos dumas comissões que decidirão quais os livros que as escolas podem escolher. A isto chama-se estatismo no seu pior sentido.