9.4.06

Ponto de ordem sobre manuais escolares

a) OS ESQUISITOS. Desde quando é que não se pode estudar por livros que já tenham sido utilizados? Qual é o problema? Gastam-se os caracteres? Mas note-se que a quem não quisesse estudar por manuais já usados anteriormente restaria sempre a possibilidade de comprarem exemplares novinhos. Como é óbvio um manual tem uma vida útil reduzida. Inevitavelmente ao fim de dois ou três anos escolares está em mau estado pelo que todos os anos as famílias teriam de entregar dinheiro à escola para manuais. O que não aconteceria era ter de comprar todos. E note-se que este TODOS inclui disciplinas como a Educação Física que para se reforçarem o seu peso pedagógico também resolveram não prescindir do manual. Em alguns casos nunca são utilizados ao longo do ano!
Sobre a necessidade de consulta dos manuais dos anos anteriores bastaria muito simplesmente requisitá-los na biblioteca escolar. Infelizmente esta é uma preocupação mais teórica do que real: na escolaridade obrigatória raramente se consultam os manuais dos anos anteriores;


b) OS EXERCÍCIOS pura e simplesmente os exercícios não deviam ser feitos nos livros. Para isso existem os cadernos. Aliás fazer exercícios nos livros é complicadissimo: as linhas não chegam, não se consegue escrever até ao fim...

c) AS OBRAS que sentido faz um manual integrar um conto do Eça, duas dúzias de estrofes de Os Lusíadas e um auto do Gil Vicente quando estas obras completas existem em edições excelentes e baratissimas? Note-se que estas edições são em geral comentadas e anotadas por especialistas que em poucas páginas analisam brilhantemente os textos em questão.

d) O LIVRO ÚNICO a ideia de que todas as escolas públicas deviam ter os mesmos livros representa uma concepção totalitária do ensino. O livro único foi no passado uma forma de controlo político e por piores que sejam algumas das edições presentes no mercado é bem pior o perigo que representa a instituição dum livro único . Aliás a figura da comissão agora defendida pelo Governo não vai instituir o livro único mas vai restringir em muito a liberdade de edição, vai intervir na actividade empresarial e diminuir a responsabilização dos professores. Estes escolhem frequentemente péssimos livros mas é melhor que escolham péssimos livros do que não possam escolher os livros. Uma comissão com poderes para determinar quais as editoras que vão poder trabalhar é uma fonte de corrupção e de prepotência.