4.5.05

Era um referendo, se faz favor

Acho bem que se encurtem alguns dos prazos previstos na CRP. Já agora, esses e outros, como o da convocação de eleiçoes, por exemplo.
Mas já é difícil de aceitar esta correria oportunista. Típica, aliás. Imagine-se que, pelas mesmas razões (oportunismo político), o PSD tinha apresentado um projecto igual para referendar ainda antes do verão a Constituição Europeia, mudando para 30 dias o prazo de convocação de um referendo. Logo vinha o BE dizer que era uma medida condicionadora do debate, que a população não conhecia o Tratado e outros eteceteras da sua conveniência, simplesmente porque, políticamente, o referendo lhe seria, provavelmente, desavorável.
Agora, que tem por certa a vitória de um político mais á direita nas futuras eleições presidenciais e porque acha que esse político não aceitará marcar um referendo sobe o aborto aprovado pela AR (será mesmo assim?), toca de acelerar, e fazer todo os jogos para conseguir o resultado desejado.
Aliás, os partidos de «esquerda» tem um problema com os referendos. Será congénito? Recorde-se que o PS, teimosamente, o ano passado, insistiu na recusa de uma revisão constitucional que efectivamente possibilitasse a realização do referendo europeu, preferindo apresentar um proposta que se sabia de antemão da sua inviabilidade. Não quis portanto o PS fazer o referendo naquela altura, mas não teve coragm de o dizer. Posteriormente, veio emendar a mão e defender a rápida revisão, para que seja realizado logo que possível.
Mas Alberto Martins, assim que tomou posse decidiu embarcar na agenda bloquista e introduziu de premeio um novo referendo à descriminalização do aborto. Tão inteligentemente conduziu o processo que obteve, em menos de um mês no seu posto, a primeira revolta do grupo parlamentar socialista em muitos anos. Recuou. Não estratégicamente, mas simplesmente porque foi obrigado. E para piorar a derrota de Alberto Martins, Sampaio, furioso por ele ainda não se ter entendido com Marques Mendes para a realização do referendo europeu, tira-lhe definitivamente o tapete, adiando para as calendas o referendo do aborto.
Mas por aquelas bandas parece que ainda não perceberam e depois do Alberto Martins, foi agora vez de Sócrates se meter a enredar rodriguinhos sobre prazos, sesões legislativas, e outros quejandos assaz pertinentes e empolgantes, visando, mais uma vez, tudo fazer para que o referendo sobre a descriminalização do aborto se faça antes do referendo europeu. Vai ser interessante ver quem cede primeiro. Se Sampaio, se Sócrates e Alberto Martins.