1.5.05

Leituras: O sonho desfeito.

"Sim, meus senhores, queremos mais liberdade, a economia do País exige mais liberdade para se poder expandir e crescer. "
José Pedro Pinto Leite

"O sonho desfeito ou Quanto vale a vida de um homem?", da autoria de Vasco Pinto Leite, é um trabalho publicado pela editora Tribuna da História, Lisboa, em 2003.

A obra constitui uma biografia política de José Pedro Pinto Leite, mentor, em Lisboa, da Ala Liberal, falecido em 1970 na Guiné, em circunstâncias mal esclarecidas, mas bem simbolizadas em trabalho artístico de Malangatana que é apresentado na capa do livro.

J.P. Pinto Leite integrou o grupo de pessoas que traçou como objectivo a alteração do regime totalitário anterior a 1974 por via pacífica, ou seja, pelo seu interior, tentativa que se saldou, em Portugal, como se sabe, por um fracasso, ao contrário do que ocorreu em Espanha.

"O sonho desfeito" descreve a actividade política de J.P. Pinto Leite de uma forma agradável para o leitor e dotada de suficiente grau de minúcia, sendo acompanhado por cópia de depoimentos e de documentos relevantes, constituindo, em suma, um texto com acentuado interesse. Dá ainda conta de outros aspectos da vida de J.P. Pinto Leite, tais como a sua estadia em Essen, RFA, e a sua participação num espectáculo de teatro.

J.P. Pinto Leite viria a falecer em queda de helicóptero no Rio Mansoa, na companhia de outros deputados que integravam a comitiva, num total de seis vítimas, em 25 de Julho de 1970. O livro reproduz, entre outros, testemunhos de militares presentes na Guiné na ocasião, incluindo de Ramalho Eanes, que "participou nas operações de busca do helicóptero desaparecido" (pág. 209), de Lemos Pires (pág. 208) e de António de Spínola (pág. 205).

Noutro passo da obra, um dos companheiros de J.P. Pinto Leite na Ala Liberal, Francisco Sá Carneiro, é citado (por Silva Pinto) como tendo dito que "Um desastre aéreo como este não pode ser acidental; passaria os limites do razoável" (pág. 231).

O texto em análise poderá servir de ponto de partida para reflexão, fazendo de 25 de Julho, e , já agora, também de 4 de Dezembro, datas que a História de Portugal irmanou, símbolos de esperança e não de fatalismo. Esperança em que alguns ideais dos que faleceram naquelas datas não tenham com eles morrido.

José Pedro Lopes Nunes