1.5.05
QUEIMA DAS FITAS
No ranking comunitário do ensino superior, Portugal ocupa o último lugar em número percentual de licenciados e, também, o primeiro com mais licenciados desempregados.
Esta situação aparentente paradoxal tem, contudo, algumas explicações evidentes.
A primeira é a da pobreza endémica do país que, não só é parco em recursos, como, quando os teve, nomeadamente nas duas décadas de vertiginosos apoios comunitários ao emprego, à requalificação profissional, agrícola e empresarial, os não soube aproveitar. Por este motivo, é fácil compreender que a oferta de emprego qualificado não seja abundante ainda que, por vezes, os nossos jovens licenciados estejam dispostos a aceitar qualquer tipo de ocupação remunerada.Um panorama destes não estimula a obtenção de graus académicos, com esforço, perda de tempo e de dinheiro, e que, muitas vezes, acabam por não servir para nada, razão pela qual há cada vez mais menos candidatos ao ensino superior: entre ir para trás de um balcão aos dezoito anos de idade, ou aos vinte e quatro munido de um diploma, não há que escolher.
Mas estes dados permitem algumas outras conclusões interessantes.
Desde logo, que os milhões que o Estado tem gasto no ensino público não têm sido devidamente aplicados ou, vá lá, não têm dado os resultados aguardados. Basta, para isso, termos em conta que a única universidade portuguesa classificada no insuspeito Academic Ranking of World Universities de 2004 é a Universidade Clássica de Lisboa, situada num manhoso 473º lugar. À nossa frente estão universidades polacas, checas, hungaras, japonesas, italianas, espanhosas, isto é, dos quatro cantos do mundo. Nos primeiros duzentos lugares, a ULSP, a Universidade de São Paulo, uma instituição do Brasil, país onde o ensino merece os mais sérios reparos académicos da nossa «elite» universitária».
Não pode, porém, dizer-se que tem sido por falta de dinheiro que as universidades públicas portuguesas não têm qualidade. Com António Guterres, por exemplo, elas cresceram exponencial e desordenadamente, em número de instituições, de cursos, de professores e de alunos. A sua «paixão pela educação», paradigma regenerador e civilizacional de um «socialismo culto», seguido, aliás, pela quase totalidade dos nossos governos democráticos, não deu, afinal, resultados de mérito. Talvez fosse mais útil uma gestão rigorosa e racional, isto é, privada, dos recursos públicos gastos no ensino superior, em vez de se continuar a fazer dele um verdadeiro vazadouro do Orçamento de Estado, começando por uma análise da estrutura de custos aos últimos anos. Quem sabe, surgiriam alguns dados interessantes...