5.5.05

Ratzinger na capa da Maxmen?

Domingos Amaral (DA), director da Maxmen, no Diário Económico de ontem (pág. 2) decide, ele próprio, dissertar sobre a escolha do Papa. Nada mais legítimo: se toda a esquerda laica, de Mário Soares a Fernando Rosas, deu o seu bitaite, por que não - entre uma boazona e outra - dissertar sobre o assunto do momento?

Fiquei verdadeiramente surpreendido com a profundidade do pensamento do DA, que demonstrou ter, afinal, qualidade jornalística suficiente para não limitar o seu trabalho à escolha de pin-up's para as capas das revistas.

DA diz que Ratzinger nos dá «pérolas (...) com o seu discurso da superioridade do Deus cristão, com o seu discurso contra o "relativismo moral"». Pois é, Ratzinger dá-nos pérolas. Mas que dizer do nosso caríssimo DA? O que nos dá ele? Ideias, certamente. A que mais se destaca é esta: «Com "karma" mais negativo que Ratzinger era impossível. Por mais que ele tente será improvável que os católicos o amem». «Karma»? Pois bem: o que significa, afinal, o tal «Karma»? O «karma» tem origem hindu, e lembra os crentes que as atitudes dos indivíduos - boas ou más - a eles voltarão, com o mesmo impacto, nesta vida, ou numa vida futura (uma vez que o Hinduísmo prevê a reincarnação). As condutas actuais, elas próprias, poderão ser fruto das atitudes tomadas numa vida passada. "Por mais que ele tente, será improvável que os católicos o amem": ora, caro DA, a sua frase, na lógica do hinduísmo, não faz sentido, pois as leis do karma o contradizem: se Ratzinger procurar o amor dos católicos, o seu karma retribuir-lhe-á esse amor na mesma medida. Talvez DA não se referisse ao karma hindu, mas apenas ao seu uso corrente - que o sentido das palavras é relativo - que significará «reputação». E como o próprio DA, afirma - e se ele afirma, quem sou eu para o contrariar - «as reputações não nascem por acaso».

Se Ratzinger, nos dá pérolas, que dizer de DA? A sua «metáfora» do fumo na Capela Sistina, mas particularmente, a riqueza intelectual associada à comparação entre Bin Laden e Bento XVI fazem todo o sentido, e estou certo que correspondem à realidade. Revelando - sobretudo a última - um elevado sentido de oportunidade.

DA diz que uma tia sua, «católica praticante e nada "progressista" chorou de desilusão quando soube da escolha». Rematando: «se a minha tia chora, imagine-se o resto do mundo».

O que DA escreve alinha com o mainstream, com tudo quanto tem sido dito e escrito por uma certa imprensa que procura projectar uma imagem da Igreja desactualizada e obsoleta. Ratzinger, agora Bento XVI, foi apresentado ao mundo como uma espécie de anticristo - «Rottweiler», «Cardeal Panzer», «Pastor Alemão», entre outros epítetos francamente simpáticos - em geral por jornalistas que desconhecem - ou conhecem pouco - o fenómeno religioso ou até da pessoa do novo Papa.

É normal que a tia de DA chore de desilusão: ela, provavelmente, gosta do sobrinho, e lê as suas opiniões. Estou certo, porém, que Bento XVI, será amado pelos católicos e, como João Paulo II, por muitos não católicos.

Porque com o tempo chegará a sua verdadeira mensagem, que é a mensagem de Deus, uma mensagem de Paz e Amor entre os Homens. Longe dos delírios de DA, que apela a Bin Laden, dizendo «Pica-o, atiça-o [a Bento XVI], como fizeste a George W. Bush. Ataca-o à bomba se necessário, que ele responde à letra, e incendeia o Ocidente cristão. (...) Aliás, a reanimação da Igreja europeia precisa de um inimigo à altura, como no passado foi o comunismo. E Osama tudo fará para o proporcionar».

Pérolas, caro DA, verdadeiras pérolas. Pessoalmente, porém, prefiro as que mensalmente nos oferece na capa da sua revista. Dedique-se ao futebol, aos charutos e ao sexo, libertando as classificações sobre o amor católico para quem realmente percebe - minimamente - do assunto. Porque, a escrever assim, acaba a pôr a sua tia e as amigas a chorar.

E deixe o Bin Laden sossegadinho...

Rodrigo Adão da Fonseca