O Telejornal da TVI (20 horas) de ontem, terça-feira, deixou-me deprimido!
Não, não fiquei comovido com os dramas passionais-amorosos de alguém; ou sensibilizado com o problema dos expropriados da futura autoestrada A... não sei quantos; nem tão pouco com o problema da população de Canas de Senhorim, em luta permanente com Nelas, a pretexto da indiferença com que os órgãos de Soberania tratam da (dizem-nos) ancestral aspiração daquela em ser-lhe outorgado um concelho, pequeno que seja.
Não foi, também, mais um caso de alguém que, através da mediática e televisiva solidariedade, viu ser-lhe resolvido um problema, um grande problema, um respeitável problema pessoal que, apesar de grande, pessoal e respeitável, não se compreende muito bem por que estranho critério editorial se transforma em notícia nacional. Nada disso, nada do habitual.
Ontem, a TVI e a inefável Manuela Moura Guedes (com o comentador de serviço Miguel Sousa Tavares que, curiosamente, cada vez comenta e opina menos, durante as emissões do respectivo Telejornal....) não nos brindaram com o chorrilho habitual de não-notícias de cunho pimba-emotivo.
Ontem, a TVI e a irritante Manuela, com o seu ar de quem sabe muito, muito mais do que nós e de quem não se deixa enganar (ah, naaõooo!), apresentaram-nos vinte minutos seguidos de Portugal no seu melhor: o "relatório Constâncio", a previsibilidade (para 2004) do déficite público de 7% (sim, SETE porcento!!), a certeza (havia já a suspeita) de que, afinal de contas, 4 anos de pós-Guterrismo, em termos práticos, nada mudaram relativamente às nossas Finanças, ao peso do nosso Estado gordo, irracional e irreformável; o número dos desempregados (sem possibilidade prática de reciclagem) que, inexoravelmente, aumenta, enchendo progressivamente o barril de pólvora - que um dia há-de explodir! - em que a nossa economia e o nosso país, se têm vindo a transformar, a estranha expropriação das instalações da Bombardier, o aumento (estatístico e, pelos vistos, comprovado pelas instituições que, de perto, lidam com a questão) dos sobreendividados e da pobreza encapotada que vai sobrevivendo coma ajuda do Banco Alimentar, enfim, a lembrança do comentador Miguel de que o fim da 1ª República e o advento do Doutor Oliveira Salazar tiveram como causa imediata uma situação que, bem vistas as coisas, não difere muito da actual: o problema orçamental e a situação de (dita) pré-bancarrota do Estado!
Fiquei deprimido. Lembrei-me do Brasil; mais recentemente, da Argentina e dos desfiles nocturnos, ao som dos tachos e das panelas. .... Ao menos, por esses lados, há bom tempo, boas praias, bons churrascos, o tango, o samba, o futebol (sim, isso, cá também)!
Porque não viver lá?! (o resto, o pior, pelos vistos, é basicamente igual....)