O Barnabé Rui Tavares acha que nesta história do tráfico de influências o peso excessivo do Estado na Economia será, digamos, uma espécie de alibi freudiano, ou algo próximo dos romances da Agatha Christie, em que a culpa é sempre da mãe e do mordomo. Usar-se-ia o argumento do peso excessivo do Estado na Economia como uma espécie de "desculpa de mau pagador".
Eu não percebi completamente o post do Rui Tavares (o que não é problema, uma vez que ele também não percebeu o meu). Na verdade, de Freud conheço pouco; gosto bastante de romances policiais; agora, não sei se a culpa é sempre da mãe e do mordomo. O que sei é que quem trabalha nas empresas tem a perfeita noção que o Estado tem uma vontade própria, distinta da dos cidadãos e contrária aos seus interesses; para sobreviver, o Estado cria redes artificiais de burocracia com que alimenta os seus agentes. Nas ciências da natureza existe um fenómeno próximo, corporizado na sanguessuga; na gíria política de inspiração "social" chamam a isto "serviço público"; ora, o normal funcionamento da economia é sistematicamente prejudicado pela inacção estatal, pela criação de obstáculos fictícios, desprovidos de qualquer racionalidade económica.
Outras vezes, o Estado assume a defesa de um interesse público que ele próprio designa. O Estado designa, mas que quem suporta os custos? O proprietário privado, e não a comunidade. Esta noção de interesse público é curiosa: o Estado legisla; o particular paga a factura.
Todo este cenário é um convite à corrupção: os privados, numa primeira fase, encontram milhares de dificuldades; os agentes estatais - essas virgens santas protectoras do interesse público - defendem a honra com unhas e dentes; mas, com o tempo, pasme-se, começam a ficar sensíveis às juras de amor de alguns privados; depois, por obra e graça da terceira pessoa da Santíssima Trindade (que eu não quero interpretações erróneas), nascem colossos como o Shopping Cidade do Porto, no Bom Sucesso, o Freeport de Alcochete, o novo hotel do Estoril, e outras aberrações urbanísticas que, sem margem para dúvidas, representam o contrário do que se pretendia acautelar.
Quem leia o post do Rui Tavares ficará com a convicção que eu toleraria o tráfico de influências e a corrupção. É exactamente o contrário. O problema é que com o estado actual das coisas, as entidades que actuem na legalidade, ficam prejudicadas perante os que não têm escrúpulos: perante os influentes e corruptos do meio privado e do meio público.
O meu apelo - e é esta a mensagem Liberalismo - aponta no sentido do livre funcionamento da Economia, sem a presença do Estado, quando ela não é manifestamente necessária. Chama-se a isto defesa da concorrência leal e ataque à corrupção.
Porque, e falando simples, "a ocasião faz o ladrão". E nestas coisas, caro Rui Tavares, o Estado e privados dividem as culpas: é que "tanto é ladrão o que vai à vinha como o que fica à porta".
Elementar, meu caro Rui Tavares.
Rodrigo Adão da Fonseca
P.S. Disponibilizo, para empréstimo, a blasfemos, consultores e amigos, a colecção completa do Holmes. Leia-se, do Sherlock , e não do John (não vão surgir pedidos que, por acidente, fossem em busca da nossa faceta pornógrafa).