O vereador comunista na Câmara do Porto, o extraordinário Rui Sá, surgiu publicamente a contestar os indeferimentos de alguns projectos de urbanismo tomados pelo Vice-Presidente Paulo Morais.
Já não percebo nada! Ainda não há muito tempo o representante do PC e os vereadores socialistas açoitavam o executivo de Rui Rio porque «os processos estavam parados e as decisões tardavam».
Em Outubro passado, Paulo Morais toma a seu cargo o Urbanismo e as decisões acontecem. Mas como, obviamente, estas não vão no sentido que o indescritível vereador do PC e a oposição socialista almejavam, agora a crítica deu uma volta de 180 graus e o problema é que estas decisões são perigosas porque «podem dar origem a indemnizações futuras».
Que os socialistas do Porto têm uma longa tradição de grande proximidade e de quase veneração pelos interesses dos construtores, já é público e notório há bastante tempo - mas que esse culto pelos interesses imobiliários tinha contagiado o inefável comunista Rui Sá, isso parece constituir uma novidade.
Ou, pensando melhor, talvez não. Rui Sá não é, apenas, um político local da ala dura de um partido marxista-leninista - é um autêntico case study de transmutação política cuja dimensão ultrapassa as fronteiras do burgo portuense.
Rui Sá é alguém que detém um dos pelouros mais importantes da C.M. do Porto, o Ambiente e que gere o SMAS (que nunca funcionaram tão mal). É o vereador que faz e desfaz as maiorias que Rui Rio precisa para levar avante (camaradas!) as suas intenções. Pois, Rui Sá consegue o feito notável de votar a favor de Rui Rio nas reuniões de Câmara e, mal delas se ausenta, criticar de toda a forma e feitio a mesma política que sufragou com o seu voto.
Esta capacidade de ubiquidade intelectual acompanhada de uma inopinada defesa dos interesses dos grandes construtores na cidade do Porto está a atingir as raias do absurdo. No actual quadro jurídico do urbanismo do Porto ou os projectos estão de acordo com as regras estabelecidas e, nomeadamente, são salvaguardados os interesses da revisão do PDM ou não deverão ser aprovados (excepto se existirem direitos legitimamente adquiridos). Tudo o que ultrapassar estas razões constitui pressão ilícita, ainda que o seja por via mediática, a paredes meias com o tráfico de influências que os políticos desse quadrante e a imprensa bem-pensante tanto gostam de criticar.
O momento em que estamos é fundamental para os interesses urbanísticos no Porto :
- A campanha eleitoral aproxima-se;
- O novo PDM está prestes a entrar em vigor;
- É a hora de agitar os interesses imobiliários neste jogo antigo e conhecido.
Pelos vistos, neste mercado de pressões, queixumes e reclamações por parte de promotores e construtores, o PC e o singular Rui Sá acabam de entrar com pompa e circunstância. Pois a falta de vergonha na cara não tem ideologia nem cor e é transversal na política portuguesa.