Vitor Constância prestou um frete político quando se meteu a estimar um défice de um orçamento por executar. Os 6.83% têm um efeito político devastador. Criou-se a ideia que este número corresponde ao défice estrutural do estado português. No entanto, não foi feita nenhuma alteração estrutural do estado que justifique o aumento do défice de cerca de 4% em 2001 para 7% em 2005. Constâncio, ao fazer as contas, partiu da hipótese de que o orçamento seria executado por um governo que ficaria impávido e sereno a ver as contas derrapar. Ora, a obrigação de um governo é ir adaptando a execução do orçamento à realidade. Nunca um défice é executado como planeado, pelo que é sempre necessário cortar nuns sítios para compensar a derrapagem noutros.
Este frete político serve para duas coisas. Por um lado, como o défice de referência, os 6.83%, está sobreestimado, o governo tem margem de manobra para fazer um brilharete. Por outro, o governo passou a ter um pretexto para não cumprir as suas promessas estapafurdias podendo subir impostos e reeditar o discurso da tanga sem lhe chamar discurso da tanga. Note-se que o discurso da tanga é absolutamente essencial para conter a derrapagem da despesa no sector público e que as promessas do PS, que envolvem sobretudo aumento de despesa, eram totalmente irrealistas.