12.5.05

LIBERDADE PARA A POLÍTICA, JÁ!



Os grandes equívocos são geradores de grandes desilusões.
Aquele que é mais comum às democracias é o de que os políticos são «servidores do interesse público» que agem em função de princípios colectivos e do «bem comum», uma espécie de seres alados e assexuados, sem interesses próprios, ambição, vontade, desejo.
A hipócrita afirmação de que o exercício da política é a «mais nobre» das actividades a que um ser humano pode dedicar-se, não corresponde à verdade. Ela é uma actividade profissional como qualquer outra, que movimenta homens e mulheres iguais aos outros, que agem em função de interesses e egoísmos próprios, e que desempenham determinado tipo de tarefas em representação dos cidadãos que governam. É por serem, nesse exercício profissional, detentores de prerrogativas e poderes especiais que podem afectar a vida dos outros, que devem ter poderes limitados e controlados, reduzidos ao mínimo indispensável para o desempenho do mandato de que foram investidos pelo contrato social que a sociedade com eles estabeleceu. Tal como os médicos, os advogados e os engenheiros devem ter formação adequada, seguros profissionais para acautelarem situações de risco e ordens profissionais que fiscalizem a seriedade com que exercem as suas profissões.
Quanto ao mais, a actividade política é uma profissão comum. Tem a sua racionalidade, os seus corporativismos, a sua lógica intrínseca. Tudo o que contribua para a enfiar numa redoma e afastá-la das regras normais do mercado, da liberdade de aceder (ou tentar aceder) aos bens e serviços que movimenta, criando regras e subterfúgios eleitorais, legais ou outros, só servirá para a transformar numa actividade de privilégio, suscitadora das mais abjectas ambições.
Por isso, é sempre incomodativo ver as virgens pudicas da pátria ruborizarem de frémito e espanto, sempre que são confrontadas com esta elementar evidência.